ARTE BARRADA NA PORTA: O CASO DO ARTISTA PAULO NAZARETH E O RACISMO INSTITUCIONAL

Paulo Nazareth, artista mineiro de reconhecimento internacional, foi barrado na entrada do próprio espaço onde expõe sua obra, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Belo Horizonte. Negro, nascido no bairro Palmital, em Santa Luzia, Paulo teve sua entrada impedida por seguranças do prédio na Praça da Liberdade, mesmo estando ali para acompanhar sua obra “Ovos de Colombo”, parte da exposição Ancestral: Afro-Américas. A pergunta que fica é: o que mais um artista negro precisa fazer para ser reconhecido em um espaço que deveria celebrá-lo?
O episódio escancara o racismo estrutural que permeia até mesmo instituições que se dizem comprometidas com a valorização da arte afrodescendente. Não estamos falando de um equívoco simples ou de uma falha isolada, mas de um sistema que persiste em enxergar corpos negros como suspeitos — mesmo quando esses corpos são os criadores da arte que está sendo prestigiada ali dentro.
Paulo Nazareth é conhecido por obras que discutem identidade, colonialismo, deslocamento e exclusão. Sua arte, que já foi exibida ao redor do mundo, frequentemente atravessa os limites entre performance, instalação e ativismo. Ao ser barrado, Paulo teve sua existência questionada num espaço que deveria acolher e celebrar sua trajetória. Ironicamente — ou tragicamente — o episódio vivenciado por ele parece uma continuação da própria obra “Ovos de Colombo”, que discute os efeitos da colonização e os apagamentos históricos impostos a povos não brancos.
A manifestação convocada por Paulo na porta do CCBB foi mais do que um protesto: foi uma extensão de sua arte, um grito performático que exigiu ser ouvido. Foi também um chamado à responsabilidade das instituições culturais. Abrir espaço para artistas negros não basta se esses mesmos artistas continuam sendo tratados como intrusos. É preciso revisar procedimentos, treinar equipes, desconstruir preconceitos e garantir que a valorização da diversidade não se limite ao discurso curatorial.
O caso de Paulo Nazareth não é uma exceção. É um retrato do Brasil real, onde o racismo não se intimida nem diante da arte. E enquanto isso acontecer, a arte seguirá sendo necessária — não apenas dentro das salas de exposição, mas também nas ruas, nas portas e nas manifestações.